sábado, 14 de maio de 2022

Pais denunciam que filhos foram agredidos e abusados sexualmente por professor em Umei de Santarém

O primeiro contato com a escola é um dos momentos aguardados com mais entusiasmo tanto pelas crianças quanto pelas famílias, mas em Santarém, no oeste do Pará, o que deveria ser uma experiência feliz está virando um verdadeiro pesadelo. Isso porque famílias estão denunciando casos de agressão física e abusos sexuais de crianças, que teriam ocorrido em uma Unidade Municipal de Educação Infantil (Umei).

Duas famílias falaram ao g1 nesta sexta (13) sobre os crimes que estariam acontecendo na Umei do bairro Caranazal. Para preservar a identidade e integridade das vítimas, os nomes dos entrevistados não serão revelados. A defesa do professor enviou nota ao g1. (veja após os relatos das denunciantes)

De acordo com a mãe de uma das vítimas, tudo começou no início do ano letivo quando observou que o filho de 4 anos aparentava ter aversão à escola. Por acreditar que era um comportamento normal do período de adaptação com a rotina escolar, a família não estranhou o comportamento. Com o tempo, a mãe percebeu inúmeras mudanças no comportamento do menino e resolveu falar com uma psicóloga da família para buscar uma orientação. A criança demonstrava ter pavor do professor, relatava que ele era mau, que a agredia e por isso ela não queria ir para escola.

“Contei para a psicóloga que me orientou a criar um ambiente de confiança com o meu filho para ele me contar o que estava acontecendo. Foi aí que eu tirei um momento com meu filho e simulei que estávamos brincando de escola. No caso os bonecos eram os coleguinhas. Eu seria ele e ele seria o professor e ele iria fazer comigo como o professor fazia na escola. Foi nesse momento que ele me fez revelações”, contou a mãe do menino. Ainda segundo a mãe, durante essa “brincadeira” o menino contou que o professor abaixava a calça e reproduziu os movimentos de um ato de masturbação. A criança contou para a mãe que o professor também a agredia muito forte na região do abdome, testículos e nos glúteos.

“Ele abriu a roupinha, colocou o pintinho pra fora e fez gesto de masturbação. Ele falou que o professor fazia xixi nas crianças. Ele falou ‘mãe ele faz xixi nos coleguinhas. Ele faz xixi. Ele fez xixi em mim também’. Eu continuei ouvindo o relato dele onde ele falou que o professor batia muito forte na barriga, nos testículos, batia muito forte no bumbum e era exatamente em lugares que talvez eu não fosse perceber. Foi aí que caiu a ficha de tudo", contou mãe.

Ela ficou com muito medo após tudo que ouviu do filho, pois percebeu o risco que a criança estava correndo. "Eu poderia ter pego o meu filho andando na porta da Umei e chegar em casa meu filho morrer por uma hemorragia interna”, disse. A mãe contou ainda que após os relatos do filho, lembrou que vez ou outra a criança retornava com roupas molhadas. Em uma ocasião ela notou que na cueca do menino havia uma secreção gosmenta e lisa, mas sequer imaginou que poderia se tratar de sêmen.

Agressões físicas

A avó de outra vítima contou ao g1 que a menina de 4 anos está tendo atendimento psicológico devido o trauma sofrido por causa do professor. A criança relatou à avó que era agredida fisicamente nas costas pelo professor. A criança contou ainda que o professor colocava as crianças de costas para a parede e fazia uma brincadeira denominada “Batatinha1,2,3” onde as crianças eram agredidas. A menina contou à família que ela também foi agredida na região do abdome.

“A minha neta não relatou se teve contato com os órgãos genitais do professor, mas ela também relatou que ele jogava o suposto “xixi” nas crianças. Ela me disse que ele fazia uma brincadeira de roda, onde um colega beijava o outro na boca até chegar no professor”, disse a avó da criança.

Mudanças de comportamento

A mãe do menino de 4 anos contou que o comportamento em casa mudou totalmente. A criança começou a falar palavrões e apresentar gestos sexuais, como a prática da masturbação e simulação de sexo oral com familiares. Além disso, o menino passou a xingar as irmãs e outras meninas do convívio familiar. A criança não se alimentava direito, perdeu peso e regrediu no desenvolvimento, querendo inclusive voltar a mamar, fazer uso de chupetas e mamadeiras. A avó da menina de 4 anos também relatou mudanças no comportamento da criança com a família. A avó disse que a criança dizia que queria voltar a ser bebê. “Ela começou a falar ‘tatibitati’ e dizia ‘vovó, não quero mais ser criança, ser criança é ruim, quero voltar a ser bebê’ e eu conversava com ela e tentava entender essa mudança no comportamento dela”, contou a avó.

Sala trancada, escura e sem brinquedos

As famílias relataram que não tinham contato com o espaço onde as crianças ficavam. Uma pessoa da Umei recebia a criança na porta e levava à sala. Poucas vezes as famílias tiveram a oportunidade de conversar presencialmente com o professor. Depois das revelações das crianças, uma reunião com a equipe da Umei foi realizada e só então a mãe do menino pôde observar que o ambiente que as crianças ficavam era pequeno e não havia brinquedos. “Há relatos que o professor trancava a sala e ficava no escuro com as crianças. A minha neta relatou isso para mim. Ela contou que o professor deixava elas no escuro e falava que o ‘bicho’ ia pegar elas”, disse a avó.

O que diz a defesa

Por meio de nota assinada pelo advogado Isaac Lisboa, a defesa do professor em questão, diz que as denúncias não refletem a realidade e que ficará provado ao fim da investigação policial que ele está sendo vítima de perseguição. “As acusações expostas na reportagem não condizem com os fatos narrados nos depoimentos constantes no Inquérito Policial e com a realidade fática. O Professor nunca teve qualquer tipo de contato físico com seus alunos ou praticou atos criminosos em desfavor das crianças durante todos os seus 17 anos exercendo o magistério. Como prova disto e das demais acusações levianas presentes na reportagem, juntou-se aos autos do Inquérito Policial, diário de classe no qual consta que uma das crianças, que a reportagem entrevistou sua responsável, sequer compareceu à UMEI na data que ocorreu o suposto evento criminoso. Ou seja, no dia do suposto crime, a criança não compareceu na UMEI, fato comprovado pelo referido diário de classe que foi juntado ao Inquérito Policial”, diz a nota. Sobre a denúncia feita pela avó de outra criança, a defesa diz que tudo não passa de ficção.

“Quanto ao outro aluno objeto da reportagem, a informação levada a efeito pela mãe em hipótese alguma representa a verdade, pois não passa de mera ficção, senão narrativa adredemente arquitetada com fim de ofender a honra e a reputação do professor. Em meio as inúmeras evidências da inexistência dos crimes imputados ao Professor, frisa-se a sua inocência e o seu empenho em comprovar a licitude de todos os seus atos praticados durante seu labor”. Ainda de acordo com a defesa, o professor “vem sendo vítima de perseguições há meses e, inclusive, já fez requerimento administrativo a Secretaria Municipal de Educação para o afastamento de servidores que motivaram a caluniosa denúncia”.

Sobre o afastamento do professor das atividades na UMEI, a defesa destaca que após reunião com a Secretária de Educação, técnicos da Semed e seus advogados de defesa, se optou pelo seu afastamento preventivamente, “para que se dedique à sua defesa administrativa e o esclarecimento à autoridade policial, assim como, para que tenha sua integridade e identidade protegida, diante de toda a repercussão midiática a qual está sendo exposto de forma indevida”. A defesa do professor ressalta ainda que a UMEI onde ele exercia as suas funções é localizada em uma casa alugada, onde cômodos são todos interligados, de fácil e amplo acesso, com iluminação adequada para o aprendizado e desempenho escolar da educação infantil, assim como, possui diariamente a presença de 12 servidores que transitam de forma constante em todo o ambiente escolar. “O Professor possuía contato direto, cordial e respeitoso com todas as mães e demais responsáveis dos seus alunos, nunca havendo qualquer atrito, divergências ou reclamações entre estes, como consta em diversas conversas em aplicativo de mensagens e em atas de reuniões com os pais”, diz a nota. O professor foi ouvido pela polícia na sexta-feira (13), onde teve a oportunidade de esclarecer todos os fatos. Segundo a defesa, o professou apresentou provas que sustentam sua inocência e se colocou à disposição da polícia para eventuais outros esclarecimentos, caso isso seja necessário.

Providências

As famílias levaram o caso à Polícia Civil que apura as denúncias em inquérito aberto pela Delegacia Especializada de Atendimento à Criança e ao Adolescente (Deaca). As crianças foram ouvidas por psicólogos e submetidas a exames de corpo de delito. Em entrevista à TV Tapajós, o delegado Alexandro Napoleão informou que aproximadamente 10 crianças das turmas do professor em questão já foram ouvidas. Também devem ser ouvidos servidores da Umei e da Semed. "Aproximadamente 10 menores que estudam naquela Umei já compareceram à Deaca. Eles foram ouvidos pelas técnicas que aqui trabalham, psicólogas e assistentes sociais e puderam relatar os acontecimentos que vivenciaram em sala de aula com professor que é suspeito de ter violado os seus direitos. As providências estão sendo adotadas de acordo com a legislação e os procedimentos policiais cabíveis para esse tipo de situação estão sendo realizados", contou Alexandro.


As famílias também levaram o caso ao conhecimento do Conselho Tutelar e Ministério Público do Pará (MPPA). O professor foi afastado da Umei após as denúncias. Ele deverá ser ouvido nesta sexta (13). Ao g1, o MPPA informou por meio de nota que a apuração ainda está em fase investigatória pela Policia Civil, e quando finalizada, deve ser distribuída a uma das Promotorias de Justiça criminais de Santarém. Em atendimento à demanda de familiares que buscaram o MPPA, a 3ª Promotoria de Justiça acompanha a situação quanto ao Controle Externo, ou, seja, na fiscalização da apuração policial.

Nota da Semed

"Quanto à denúncia apresentada, a Secretaria Municipal de Educação (SEMED) por meio do Núcleo Técnico de Educação Infantil (NTEI) esclarece que tomou conhecimento do caso na última segunda-feira (2). Com a formalização da denuncia, esta SEMED iniciou os trâmites necessários para que o caso seja devidamente apurado pela Comissão Permanente de Processo Administrativo Disciplinar (PAD). Salientamos ainda que o servidor encontra-se afastado de suas atividades profissionais até a conclusão da apuração do caso pela comissão processante".

Fonte: G1 Santarém

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