terça-feira, 16 de julho de 2013

Após 1 ano do acidente que matou 10, famílias do PA pedem justiça

Parentes das vítimas do acidente de ônibus que matou 10 jovens paraenses no dia 16 de julho de 2012 no Paraná farão uma passeata em direção a Fantasy Turismo, eBelém, nesta terça-feira (16). A concentração será às 9h, na Praça da Bandeira. Eles cobram que os responsáveis pelo acidente sejam julgados. “Queremos saber de quem foi a responsabilidade do acidente, quem foi o culpado. 

Estamos nos mobilizando para entrar na Justiça”, declara Arnaldo Amaral, pai de Bruno, uma das vítimas do acidente, que faria 24 anos no dia 30 deste mês Amaral conta ainda que a Polícia Civil em Belém colheu os depoimentos das famílias para serem anexados ao inquérito no Paraná, mas que depois disso, nenhum retorno foi dado. “Nós queríamos responsabilizar o culpado. Eu pedi ao dono da Fantasy uma cópia do inquérito, e ele se comprometeu a me entregar o documento, mas e até agora não recebi nada", conta.

"Esse apoio que recebemos da empresa de viagem não é nada. Se comparar a perspectiva de vida do meu filho, isso não paga,  não vai trazer ele de volta. É muito sofrimento para a gente. Tocar nesse assunto é muito desgastante. Foi uma perda irreparável. Temos que nos conformar e pedir a Deus que ele proteja nosso filho onde ele estiver”, lamenta.
A diarista Maria Suzete Marques é mãe de Thamirys, que morreu no acidente. Ela conta que, após o acidente, não teve mais vontade de trabalhar. “Eu passei a tomar medicação passada por psicólogo. Não conseguia me controlar, chorava muito”, relata.
Família da vítima thamyris (Foto: Igor Mota/ Amazônia Jornal)Mãe de Thamirys conta que precisou de apoio psicológico após a morte da filha (Foto: Igor Mota/ Amazônia Jornal)
Maria explica ainda algumas famílias receberam a indenização, seguro de viagem e o DPVAT, mas após isso, não teriam mais nenhum contato com a empresa. “Ficou por isso mesmo. Dez morreram, outros ficaram feridos, outros passaram por cirurgia e parece que não aconteceu nada. Vai cair no esquecimento”.
Infográfico PR (Foto: G1 PR)Infográfico PR (Foto: G1 PR)
Em relação às causas do acidente, a diarista informou que o laudo preliminar da perícia teria apontado imprudência por parte do motorista do ônibus de turismo. “Ele estava a 91km/h e invadiu a outra pista. Não foi acidente, foi imprudência”.
Maria conta que familiares e amigos de Thamirys estarão presentes na passeata desta terça (16) e prestarão homenagens às vítimas. “Decidimos procurar a Justiça. Minha filha foi para lá para voltar e não para morrer”. Thamirys completaria 21 anos no último domingo (14).
Assistência
Alexandre Rocha, proprietário da empresa Fantasy Turismo, responsável pelo ônibus envolvido no acidente, garante que todo o auxílio necessário foi prestado às vítimas e aos familiares. A empresa alega que já gastou mais de R$ 1 milhão com indenizações e assistência psicológica.

“A empresa fez tudo o que pode desde o momento do acidente e continua oferecendo todo o apoio necessário. Dos 52 envolvidos no acidente, 14 ainda estão em tratamento. Os familiares das dez vítimas que vieram a óbito receberam indenização e tiveram suporte psicológico à disposição do Conselho Regional de Psicologia”, afirma Rocha.
Quanto à alegação de alta velocidade por parte do motorista do ônibus, Alexandre diz que a perícia comprovou que o veículo chegou à velocidade de 90 km/h e que o acidente foi provocado por falha humana.
Alexandre (Foto: Elivaldo Pamplona)
Alexandre caracteriza acidente como fatalidade
(Foto: Elivaldo Pamplona)
"Mesmo assim eu caracterizo como uma fatalidade. Cochilar ele não cochilou e fadiga não era porque ele estava dirigindo a menos de três horas. O permitido na via era 60 km. Ele chegou até essa velocidade [de 90 km/h] porque era uma descida, freou e colidiu a 37 km/h. Não vou demitir o meu motorista porque sei das responsabilidades dele. Ele tinha 30 anos de experiência. Isso [o acidente] acabou psicologicamente com ele. Se eu, que estava lá, trabalho com dificuldade, imagina ele que estava dirigindo. Ele continua sendo da empresa mas não dirige mais para nós", comenta.
De acordo com Rocha, o delegado de Piraí do Sul informou que a conclusão do inquérito policial ainda deve demorar. "As oitivas foram feitas com as pessoas de Belém. Aí chega lá na cidade, e o Ministério Público que faz a denúncia. A empresa é pequena, não temos como acompanhar essa questão da polícia. O que eles mais querem é que a Justiça julgue o caso, mas não é a empresa que vai conseguir isso", esclarece Rocha.
G1 tentou contato com a Polícia Civil do Paraná, mas não foi atendido.
Nova rotina
O estudante Yuri Nassar foi um dos sobreviventes do acidente e conta que o trauma nunca passa completamente, mas que consegue seguir em frente. “Eu evito até ficar falando sobre isso. Eu sei que vai ficar marcado para sempre, mas sempre evito ficar remoendo o caso”.

O sobrevivente Yuri Nasser diz que prefere não falar sobre o assunto (Foto: Arquivo Pessoal)
O sobrevivente Yuri Nasser diz que prefere não falar
sobre o assunto (Foto: Arquivo Pessoal)
Ele relembra os minutos que antecederam o acidente: “Eu acordei e logo percebi que o motorista dirigia muito rápido. Eu até cheguei a comentar com alguns amigos. Em uma das curvas, o galão de água que estava no bebedouro chegou a virar um pouco e derramar a água”.
Ainda de acordo com Yuri, ele e os amigos estavam muito inquietos e preocupados com a velocidade do ônibus. “A gente chegou a levantar para ir conversar com o motorista e saber o que estava acontecendo. Mas aí não deu tempo”.
O estudante conta que na próxima terça (16) será realizada uma homenagem às vítimas, no auditório da Universidade Federal do Pará (UFPA).
Assim como familiares e demais amigos das vítimas, Yuri também espera uma solução para o caso. “A gente não entende o porquê de toda essa demora. Queremos uma explicação. Pelo que eu vi naquele dia, posso até afirmar que já sei o que aconteceu. Mas precisamos de uma resposta oficial”, completa.
João Malcher da Cunha Neto também é um dos sobreviventes e conta que após um ano do acidente permanece o medo de fazer viagens pelas estradas. “No começo, eu tinha medo de andar de ônibus até na cidade. São lembranças que não apagam. Mas a gente supera”.
Ônibus caiu em ribanceira após bater na lateral de caminhão (Foto: Foto: Divulgação/Polícia Rodoviária Estadual)Ônibus caiu em ribanceira após bater na lateral de caminhão (Foto: Foto: Divulgação/Polícia Rodoviária Estadual)
Neto espera comparecer no ato em memória às vítimas. “Eu conhecia todos os 10 que morreram. Alguns eram grandes amigos meus e outros eu conheci durante o trajeto. Todo mundo se conhecia. Ficamos muito próximos uns dos outros”.
Ainda segundo o estudante, a última informação que tiveram sobre o caso foi há 6 meses. “Na última reunião a gente recebeu a carta precatória [convocação para depor] e um laudo preliminar, que veio do Paraná, e prestamos depoimento da Dioe [Divisão de Investigação e Operações Especiais], mas já faz muito tempo. Depois disso, não sei de mais nada”, comenta.
Sobre as indenizações, Neto explica que já recebeu da empresa o valor de R$ 7 mil, e aguarda apenas o seguro DPVAT [Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores Via Terrestre] para ressarcir os gastos com remédios para os ferimentos causados no acidente.
Vítimas dizem que caso ainda não foi esclarecido (Foto: Divulgação / Polícia Rodoviária Estadual)
Vítimas dizem que caso ainda não foi esclarecido
(Foto: Divulgação / Polícia Rodoviária Estadual)
O acidente também mudou a rotina da Fantasy Turismo. Segundo Alexandre, a rota por onde passou o ônibus no dia do acidente não é mais utilizada. "Eu mudei a rota. A gente faz outras excursões e hoje pegamos outro caminho. Eu mudo porque estava lá, eu passei por lá, eu vi. Eu perdi três amigos pessoais, três deles eram pessoas muito próximas, e ainda poderia ter perdido dois sobrinhos. Nunca mais vai ser a mesma coisa".
Rocha diz ainda que outras alterações foram feitas nos procedimentos da empresa. "Nós sempre tivemos, periodicamente, treinamento psicológico e prático. Não mudamos totalmente, adotávamos todos os procedimentos exigidos pela ANTT [Agência Nacional de Transportes Terrestres]. Só que o que eu fazia de 6 em 6 meses, agora eu faço de 3 em 3", explica.
Entenda o caso
O acidente de ônibus (executivo, double) ocorrido na PR-090, entre Ventania e Piraí do Sul, na região central do Paraná, deixou dez mortos na manhã do dia 16 de julho de 2012. O veículo, com 52 passageiros e dois motoristas, seguia em comboio com outros dois ônibus de Belém, no Pará, para Curitiba, no Paraná, onde os estudantes participariam de um congresso de informática. O percurso entre o município e a capital paranaense é de 117 km.

O motorista teria perdido o controle, bateu na lateral de um caminhão e caiu numa ribanceira no km 155 da rodovia estadual PR-090, a 200 km de Curitiba e 90 km de Ponta Grossa. Segundo a Polícia Rodoviária Estadual (PRE), as vítimas fatais foram identificadas como Ariane dos Santos Sinimbu, Bruno Azevedo Amaral, Darlyce de Lima Cavalcante, Felipe José Barros Amin, Ivana Dias Rosa, Leonardo Lopes Couto, Renato Iori da Conceição, Sivaldo Miranda do Nascimento Júnior, Thamirys dos Santos Oliveira, Wilson Louzeiro Evangelista. Os corpos levados para o Instituto Médico Legal (IML) de Ponta Grossa (PR).

*Colaborou Izabella Bemerguy.

Fonte: G1

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