quinta-feira, 29 de março de 2012

'Cura' de Lula é farsa politica, diz analista

A volta de Lula estava prevista para meados de abril, ali caminhando para o fim. O anúncio do “desaparecimento” do tumor feito pelos médicos ou da “cura”, feito pelo próprio Apedeuta, faz parte de uma operação política de emergência, que batizo aqui de “Operação Salva Gugu-Haddad”. Os petistas avaliavam que sua candidatura estava se esfarelando.
O partido detectou em certas áreas uma espécie de movimento “Volta-Marta”. Ocorre que tal volta é considerada impossível porque seria contrariar a vontade do predestinado, admitindo que Kim Jong-Lula pode cometer erros. Impossível!  Para Gugu-Haddad, seria também uma humilhação. 

Pelos cantos, os petistas se dizem surpresos com a ruindade do “pré-candidato” escolhido pelo Estimado Líder. “O povo não entende o que ele fala”, resume um deles. “É muito lento”, avalia um outro.
Mas só a ruindade de Haddad não explica tudo. O clima de rebelião na base também conta. E São Paulo será sempre um bom lugar para dar o troco. Mais ainda: partidos que estão no arco de sustentação do governo federal também integram alianças no Estado e na capital. As seções paulista e paulistana dessas legendas não estão dispostas a abrir mão do certo pelo que consideram mais do que duvidoso.
E Haddad estava se mostrando um projeto impossível. Por enquanto, ele não tem nem eleitores nem aliados. Sua única garantia era Lula, temporariamente fora de combate. As articulações, conversas e promessa de aliança, não obstante, estão em curso. E era preciso tentar frear tudo isso, meter o pé do breque, dar um solavanco.
E foi o que se fez nesta quarta. O que poderia ter sido — E DEVERIA TER SIDO, SEGUNDO O DECORO DA MEDICINA E DA POLÍTICA — uma nota técnica virou numa grande operação política: a “Operação Salva Gugu-Haddad”, com o vídeo mais do que eloquente, em que Lula avisa: “Estou voltando”.



Se está, então que se congele tudo. Convém, é o recado implícito, não fechar alianças desde já, não apalavrar nada, não fazer compromissos. Quando Lula voltar é que o jogo vai começar para valer. Só Lula pode fazer o milagre, outro milagre, de tornar Fernando Haddad um candidato viável.
Não é só isso. A operação foi deflagrada um dia depois de vir a público a foto em que Lula aparece ao lado de Fernando Henrique. Nas alas mais heavy metal do PT, isso foi considerado um erro. O Lula como figura acima das divergências perde muito de seu poder de fogo. Ele tem de continuar a ser o líder do “nós” (eles) contra “eles” (nós). O jogo petista continua o de sempre: aniquilação do outro, e não convivência com a divergência, segundo as regras da democracia.
Fonte: Reinaldo Azevedo (Revista Veja)
 

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