4.01.2011

Quando o Cine Tapajós foi inaugurado com grande pompa e luxo, a high society santarena debandou-se para o novo cinema. Ar-condicionado, cadeiras estofadas, acústica perfeita e design moderno cativaram os mocorongos que abandonaram o Cine "Olympia" que ainda resistiu por mais nove anos graças ao povão. Óbvio que o ingresso era bem mais caro, segregando o público entre os cinemas e resultando no esvaziamento tanto do Olímpia como do Acácia.
Por questão de sobrevivência, meu pai (Raul Loureiro) decidiu construir um cinema ainda mais moderno e luxuoso para suplantar o Cine Tapajós. Nessa guerra, éramos nós contra a poderosa Varig, dona do Hotel Tropical e de uma cadeia de hotéis luxuosos pelo Brasil como também a maior companhia aérea da América Latina.
No início, a programação do Cine Tapajós acompanhava aos lançamentos de filmes junto com as capitais, nem preciso dizer que a Varig trazia os filmes de graça em seus aviões. Finalmente, depois de um ano e meio de construção, inauguramos o Cinerama. Ele era tão moderno na época, que jornais de Belém e Manaus noticiaram o feito com muitos elogios. Até hoje, ele é um prédio que impõe respeito com a sua fachada. Foi o único cinema do país com sala de vidro exclusiva para fumantes e a tela tinha uma curvatura tão ampla que era comparável à uma rampa de skate. Isso trazia conforto visual para quem assistisse ao filme sentado nas laterais. A central de ar era enorme e consumia uma quantidade absurda de água e energia elétrica.
Enfim, conseguimos trazer o público de volta para o nosso lado. Tivemos sorte, pois o Cine Tapajós já não estava mais conseguindo trazer lançamentos como no início pois o Hotel estava dando muito prejuízo para a VARIG, na verdade esse investimento nunca se pagou. Em poucos anos, o Cine Tapajós fechou suas portas.
O Cinerama funcionou solitário por vinte anos, porém tinha muitos "concorrentes": Televisão, barzinhos, restaurantes, shows, boates, locadoras de vídeo e a internet mais recentemente. E durante esse tempo, a sala foi se deteriorando, os projetores foram quebrando, o ar-condicionado já não era como antes, os costumes foram mudando, o público estava ficando cada vez mais exigente e ao mesmo tempo intolerante ao fato de não passarmos os filmes ao mesmo tempo que as capitais. Esse sempre fora o nosso "calcanhar de Aquiles". Nós fazíamos um esforço hercúleo para trazermos grandes filmes o mais rápido possível mas era como ficar enxugando gelo. É preciso entender que nós éramos uma sala de cinema, entre as mais de 1.800 (Mil e Oitocentas) espalhadas pelo país, localizada no interior de um Estado da região Norte e com um público pífio.
É preciso esclarecer que até hoje só fazem no máximo 600 (seiscentas) cópias de cada lançamento, e não é nenhum "DVDzinho" ou fita de vídeo como muita gente "achava" que era projetado na tela e sim uma latas enormes com 35 quilos de peso com um frete aéreo caríssimo, chegando a Mil reais ao mês. Mesmo as salas modernas atuais, localizadas fora das capitais (com raras exceções), não exibem os filmes simultaneamente quando do seu lançamento. Elas ficam esperando a vez, como matematicamente já expliquei. A prioridade são de salas com grande demanda de público.

*Emanoel Loureiro é cineasta
Eu como saudosista incurável, choro de saudades dos Cine Olímpia, Cinerama e Cine Acácia. Eu era fiel aos 3 cinemas. É certo que fui umas duas vezes no Tropical Hotel, mas não gostei muito do luxo..rss
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