quarta-feira, 18 de abril de 2012

Pesquisa testa resistência de árvores da Amazônia

"A experiência científica não é como uma receita de bolo", alerta o pesquisador Breno Rayol ao apontar a rigorosidade que um estudo deve ter para alcançar resultados coerentes. “Olha só essa daqui, é uma delas”, Rayol agacha-se, apronta o paquímetro, tira a medida do diâmetro do tronco, verifica a placa de identificação – uma espécie de carteira de identidade - do vegetal com um pouco menos de meio metro de altura que é uma das cobaias. Quem não entende do assunto poderia olhar aquele ser como uma simples planta, algo comum; mas para o cientista, o olhar é de criador e sua criatura.
A pesquisa verifica desde 2006 o desenvolvimento de 240 mudas de árvores, de 13 espécies, num local com quase nenhuma condição de sobrevivência. Mas algumas espécies mostraram resistência e capacidade de adaptação conforme revelou em pesquisas já publicadas.

Laboratório de árvores

Num final de tarde amazônico, período de chuva, clima ameno, fomos até a área pouco maior que um campo de futebol (1,4 hectare). No local estão elas, cercadas por um muro de tijolos, a formação agora é de capoeira, tipo de vegetação que surge após a retirada da floresta primária.

“Juca, o senhor pode ver a chave do bosque?”, solicita Rayol ao guardião da floresta. Seu Juca, homem de traços faciais e o sotaque caboclo não é cientista, mas um hábil identificador de espécies florestais. Ele também toma conta das experiências produzidas no laboratório de árvores.

Logo na entrada o visitante se depara com uma homenagem entre folhas que revela o escrito: “Bosque Mekdece”. Assim foi chamado o lugar que agrupa a formação arbórea cosmopolita.


A engenheira florestal, Fátima Mekdece, foi quem iniciou as primeiras pesquisas sobre as sementes em Santarém. Dentre seus estudos na região, é destaque a aplicação da “quebra de dormência”. “Toda semente fica com, digamos... preguiça de germinar. Para que essa semente possa apresentar brotos de forma mais rápida, são feitos testes como colocar a semente em água quente. São formas de acelerar a germinação”, explicou Rayol. Mekdece atualmente vive em Belém, capital do Estado do Pará.

O laboratório ao ar livre faz parte da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa) que apesar dos 2 anos de fundação, já teve pesquisas publicadas. Isso porque foi construída a partir dos campus Ufra-Santarém e UFPA-Tapajós, instituições que atuavam na região.

De acordo com o diretor do Instituto de Biodiversidade e Florestas da Ufopa (IBEF) João Ricardo, dentre outros objetivos, a universidade quer auxiliar no melhoramento da produção de bens e serviço do homem amazônico. Volta-se à conservação das florestas. "Na região, temos dois importantes potenciais: recursos florestais e minerais. Se conseguirmos ter um equilíbrio entre as duas vias de desenvolvimento de produção, com certeza teremos uma região com bom nível de desenvolvimento socioeconômico", destacou o professor João.

Visita à Hymenaea Courbaril Lee & Langenh

A Hymenaea courbaril trata-se do nome científico dado à espécie “jatobá” que faz parte da pesquisa de resultados positivos para a produção desse recurso natural na região. O estudo foi elaborado em dois anos, quando os especialistas avaliaram o ritmo de crescimento desse tipo de árvore, um enriquecimento de capoeira.

Segundo os resultados, em 2009 foram plantadas na área 24 mudas de jatobá, sendo distribuídas em grupos de 3 exemplares, numa distancia de 20 metros cada trio. Ao final de 18 meses de observação, constatou-se que houve 100% de sobrevivência dos jatobás, o que é muito satisfatório, conforme afirma o pesquisador Breno Rayol.

Hoje, contando com uma plantação de jovens jatobás, outra observação que chama a atenção, diz respeito ao maior crescimento desse tipo de árvore no período de chuva da região amazônica. “Provavelmente um dos fatores é a pluviosidade. Observamos que em épocas de pouca chuva o crescimento é muito menor e isso é um indicador determinante. A época sem chuva é tão forte que a mortalidade é elevada. Agora, começamos a pensar em desenvolver técnicas. Isso é uma demanda para que estas espécies consigam sobreviver durante esse período mais drástico”.

Trilha para ver a experiência

Seguindo a trilha aberta no bosque, ao estar dentro da floresta urbana, quase não se percebe o barulho dos carros que passam nas ruas que rodeiam o espaço. O gorjear dos pássaros acaba tomando conta do lugar. O tumulto torna-se indiferente. A música de passeio também é composta pelos estalidos dos galhos que decompõe para dar energia aos vegetais e demais seres daquele ecossistema. Em menos de 1 minuto de caminhada, chegamos ao local onde agora as árvores de laboratório crescem.

Segundo Rayoul, o jatobá não é uma espécie que está em risco de extinção; porém, sofre intensa pressão madeireira. Para ele, o quadro pode ser revertido com o reflorestamento desse recurso natural pelas próprias comunidades que poderão, mais tarde, utilizar as espécies de forma ordenada. "Se a gente conseguir propagar o plantio dessas espécies na agricultura familiar, em ambiente altamente perturbado, podemos gerar renda."

O cientista também aponta que além da geração de emprego e renda, o valor de uma árvore vai bem mais a diante. “Sabemos hoje que uma árvore contribui em vários aspectos, como a possibilidade de descanso debaixo de sua sombra, o efeito dos cantos dos pássaros e a diminuição da alta temperatura. Tudo isso é importante para a qualidade ambiental.”

Assim, por tudo que se tem plantado no Bosque Mekdece, valores científicos, sociais, cultuais, ambientais, econômicos, e dentre muitos outros, não há dúvidas que plantar uma árvore, construir florestas urbanas, só deve contribuir para a qualidade de vida.

Fonte: Notapajos

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